quinta-feira, 21 de novembro de 2013

18o festival de arte contemporânea sesc_videobrasil

Por Pedro Martins



Está rolando no Sesc Pompeia esse festival, aproveitei o feriado para dar uma checada, não conseguir ver tudo devido um ambiente estar fechado para o ensaio de uma performance. O festival abrange a produção artística do eixo sul  Geopolítico ( America Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Europa do Leste, Sul e Sudeste asiático, e Oceania). Seu recorte nos trás questões estéticas, políticas e sociais e subjetivas e segue o tema da busca pelo outro.

Essa obra é uma instalação sonora, onde a artista Lais Myrrha criou um ambiente simula o prática de ouvir a conversa de outro lugar com um copo, usando esse copo o som é amplificado e podemos ouvir o diálogo de estranhos, no caso existe já lugares marcados na parede para podermos ouvir, eu nunca tinha feito isso, só conhecia essa "tática" por filmes.



Esses são trechos do que podemos ouvir bisbilhotando esse "outro". Na verdade não sei se é possível praticar esse método na vida real mas como instalação é inusitado e bastante criativo.



Detalhe do "método" para bisbilhotar o vizinho ou seja quem for.

 Esse vídeo de Frederico Lamas é uma edição de uma novela pornográfica dos anos 60, onde na versão do artista, que remontou de uma maneira sem uma narrativa lógica, insere objetos geométricos obstruindo o campo de visão do espectador para as áreas intimas dos personagens. E além disso ele criou a partir de processos de pós-produção de imagens, uma estética lisérgica, retocou a imagem para lhe dar um aspecto onírico, todo o vídeo tem um tratamento em que a sua imagem é retorcida, distorcida e super-lavada. Existem fusões impressionantes no vídeo de planos próximos para outra cena, onde a fusão se faz por uma espécie de nevoa e assim se desmaterializa para o plano seguinte.


''El exodo de los olvidados" de Charly Nijensohn é um vídeo realizado na Patagônia ao sul dos Andes, nos maiores campo de gelo da América do Sul, boa parte deserta e inacessível, O artista cria um balé de exploradores entre a peculiar paisagem de branco e azul do gelo, a obra mergulha em um território desconhecido e ameaçador.


Detalhe do explorador em meio a imensidão de gelo, e neva bastante nesse take, uma situação extrema. 


A obra "Sympathy for the Devil" da vídeoartista Boliviana Claudia Joskowicz é um simulacro do espaço diário, e a partir dele lança a  questão da abertura para exilados nos anos pós-guerra tanto para nazistas como para judeus, que nessa história são dois vizinhos, um Polonês, morando no andar de baixo de um nazista, onde se encontram diariamente no elevador e dividem a mesma vista da cidade, a obra é guiada pela música dos Rolling Stones que dá nome ao vídeo.



Indo embora me deparo com esse obstáculo, é a Teoria das Bordas de Lais Myrrha. A instalação funciona como uma pesquisa da idéia de ausência e questiona padrões que reagem o cotidiano em instalações, ações e fotografia. Atravessei o caminho dessa superfície revestida com um grão sintético rumo a saída e captei o sentido dessa obra, de querer interagir com o transeunte.


Serviço:
18o festival de arte contemporânea sesc_videobrasil
até 02 de  de Fevereiro de 2014                                                                                                                                                                                                         Ingresso: Gratuito
Indicação: Livre
Sesc Pompéia  
Aberto de segunda a sabado, das 9h às 21h
R. Clélia, 93 - Pompeia, São Paulo
(11) 
3871-7700

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Resistir é Preciso

Por: Lucas Navarro
                                                             
George Orwell diz que a imagem do futuro
é a bota sobre um rosto, eternamente,
e a nítida impressão que a gente sente
é que vivemos já num tempo escuro.
O Burgess, por sua vez, também foi duro
quando pegou seu jovem delinqüente
e o converteu num ser subserviente
que só lambia sola, robô puro.
O Glauco aqui, que vive do passado,
saudoso duma infância de opressão
(só fui pelos moleques abusado),
É o mesmo Glauco agora, e lambe o chão
pisado pelo mesmo tipo sado;
só que antes enxergava, e agora não”.

“Soneto Futurista” – Glauco Mattoso

Os Vândalos de Outrora
              Com um número expressivo de obras que traduzem a repressão em várias dimensões de representação, a exposição “Resistir é Preciso” aparece em momento necessário em que manifestações tomam nossas atenções e inquietações. Parece, então, adequado um distanciamento para vislumbrar como artistas lidaram com a representação em regimes que, em alguns aspectos, nos assustam pela semelhança. Dividida em quatro partes a exposição idealizada pelo Instituto Vladimir Herzog traz a tona a resistência dos meios de comunicação que levou centenas de profissionais da área para a prisão, onde foram torturados e até assassinados (como o próprio Vlado), são elas: “Anos de Chumbo”, que abrange o período cujas obras parecem mais agônicas; “Imprensa contra a Ditadura”, onde vemos as revistas de resistência em circulação; “Nossos Direitos” cuja coleção é basicamente de uma única série, com autoria de vários artistas, inspirada na Declaração dos Direitos Humanos e, por último, “Não há de ser impune” que contém vídeos, fotografias e revistas sobre a Anistia Internacional. A acervo inclui Hélio Oiticica, Lygia Pape, Waldemar Cordeiro, Alex Flemming, Marcelo Nietsche, dentre outros “vândalos” da época. A exposição também conta com quadros didáticos sobre a trajetória dos partidos de esquerda desde o PCB de 1922, e linhas do tempo para ajudar aqueles não nascidos na época. Enfim, uma aula de história. Curiosa é também uma sessão que abre para o público a chance de representar, num mural, suas indignações com a repressão que tem, em alguns signos, um paralelo gritante com os antigos marginais.



Um Tempo Escuro

                Sempre foi difícil usar obras de arte como ferramenta ideal para se medir qualquer coisa além dela mesma e usá-la como índice ou ilustração de um certo estado de espírito de seu tempo é gesto que não se dá sem violência. Às vezes uma crítica de arte focada na leitura discursiva de uma obra sobre o mundo termina por ignorar sua intransitividade, uma outra crítica concentrada exclusivamente na poética (no sentido aristotélico do termo) de construção das obras peca por inevitavelmente retirá-las de contexto – como se obras não fossem feitas por pessoas e para pessoas, e essas pessoas não carregassem sob as pálpebras os vícios e as potências de sua própria cultura. O que significa dizer que fazer uma obra de arte no período da repressão significa se deparar com um impasse abissal em termos de tradução em linguagem. As obras dessa sessão se deparam com esse abismo na linguagem cuja dissolução da figuração é o primeiro sintoma.


Figura (1964) Ivan Serpa, óleo sobre tela, 134 X 203.




                  Com Figura de Ivan Serpa conseguimos ter uma noção da deformação no âmbito da percepção sensível frente à escuridão, ao medo. Sua pálida criatura se contorce e parece debater-se, tentando escapar de algo que já a consumiu por completo: a morte. Esse, e outras telas que compõem suas Figuras, são as últimas obras antes de Serpa mergulhar na abstração total, como se aqui houvesse um último filigrana reconhecível da exterminação completa da figuração que, já aqui, se anuncia. Elogio ao disfuncional? Não exatamente, mas solicitação de modernidade. Um artista bem que gostaria de representar gatos e paisagens, mas ele, como todos nós, não escolhe o tempo que nasce. Essa solicitação é o cerne da série Natureza Morta (1978) de Alex Flemming que ocupa a mesma sala.
 
 
Natureza-morta (1978) Alex Flemming,
 buril e fotogravura sobre papel, 39 X 26,3.

 

 
             Aqui temos a nítida impressão de um gênero consagrado pelas academias em seu caráter de contemplação e estudo de harmonia e forma, a Natureza Morta, deslocado para um fim político de denúncia. Esse conflito entre gênero e objeto gera, naquele que se aproxima das obras pelo reconhecimento do nome por antecipação, uma tentativa de achar harmonia onde só se vê terror. Tal tentativa se traduz em náusea, por ser tentativa sem lastro com o real: eis os infortúnios da tradição.

            Quem parece estar mais fora do peso deformador da tradição é Cildo Meirelles com suas Inserções em Circuitos Ideológicos (1975) que funciona com a inserção de um elemento dissonante imprevisto dentro da lógica da reprodutibilidade técnica dos itens de maior circulação do capital. Assim ele inseriu seu projeto em itens de consumo massivo como no projeto Coca-Cola que imprimi na garrafa como se faz, passo a passo, um molotov. Outro projeto, Quem Matou Vladimir Herzog?, que teve mais sucesso, talvez pela abrangência do potencial de circulação do dispositivo – afinal o que é mais passível de circulação na sociedade capitalista se não a própria moeda de troca dessa sociedade? “Eles vão se deparar com a pergunta”, parece dizer Meirelles, “talvez tentem afastar-se do mal estar, todavia, quando menos esperarem, lá vai estar ela novamente, inserida no seu cotidiano, mesmo que não se fale a respeito, como um andarilho que perturba o banquete no castelo das ilusões”. O projeto parece estar sendo retomado atualmente para lembrar que não estamos, apesar de esquecermos com frequência, tão distantes do passado, como se, após o fervor, o andarilho fosse convidado para se juntar à mesa e fosse tomado por uma contemplação entorpecida de mendigo farto, mas que, após a digestão, dá-se conta do poder de Calipso do festim.
 


Insersções em Circuitos Ideológicos – Projeto Quem Matou Vladimir Herzog (1975) Cildo Meireles.


Anônimo


 A língua que não lambe a bota






                   O segundo andar guarda um tesouro. Trata-se de paredes com as capas e mais capas de revistas de crítica ao poder que custam, à minha neófita geração e a mim mesmo, de acreditar que elas circulavam. Muitas, é verdade, circulavam clandestinamente. É sabido também que outras (como no caso d’O Pasquim) eram lidas e admiradas – pasmem! – pelos próprios milicos da censura (coisa que não deixou de evitar a dissolução da revista pelo serviço de extermínio). Pif Paf do Millôr, Opinião (que depois se transformaria em O Movimento), O Grilo, Pasquim, está tudo lá. São várias as de outros países da América Latina e França que também apontavam suas máquinas de escrever para cá e metralhavam o papel contra os dirigentes.

            A escolha de colocar Língua Apunhalada de Lygia Pape numa das paredes já sugere o que se passou com esses caras. Esses, talvez não poderiam prever que a censura permaneceria com a democracia, regida pelos ícones da liberdade de outrora.


 
 
O Iluminismo

            A terceira sala reúne, basicamente, uma única série. Baseada nos artigos dos Direitos Humanos, cada artista (e são muitos) tomaram um artigo para representar em uma tela. A maioria traduzia os artigos em imagens um tanto “burocráticas” – um tédio. São poucas as que conseguem contrapor o nomos da práxis, como José Guyer que representa o “Atigo XXlll – Todo ser humano tem direito a propriedade” com uma cena de Don João Vl e a família real atracando no porto. A cena leva uma inscrição que não vou reproduzir fielmente (não era permitido tirar fotos, uma maçada) mas que diz, de maneira pouco sucinta: “a família real chegou ao Brasil, e colocou para fora aqueles cujo domicílio lhes interessava a estadia”. Enfim uma homenagem à lucidez.

           

O Progresso

            A última sala tem como tema o processo de abertura. Com vídeos de entrevistas e gravações de discursos, a sala parece conter um movimento que nos impele para o futuro. Fotografias e revistas trazem o momento do suplício pela lei de Anistia que parece configurar, nos olhos dos manifestantes, o último filigrana de esperança. O futuro tem por objetivo o esquecimento, deve se livrar do passado e de seus grilhões para galopar ao “desenvolvimento”. Andando pelos corredores cinzentos dessa sala que parecemos ouvir uma música que vem de não se sabe onde mas que, ao nos aproximarmos do som, temos uma visão daquilo que é como uma síntese da sala (e por que não da exposição?) diante de nossas retinas. Trata-se de um pequeno espaço dentro de uma escura saleta que toca um réquiem e, nas paredes, projetam nomes de pessoas que atravessam a sala para cair num amontoado de outros nomes  que a precederam.

 

               Os nomes, de alguns assassinados durante a repressão, são amontoados, escombros sobre escombros que, sem cessar, é arremessado em nossos e que, como o Anjo de Benjamin, é incapaz de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroços com suas asas, pois, essas, são impelidas pela tempestade do progresso.

 



Serviço:
“Resistir É Preciso”
até 06 de Janeiro de 2014                                                                                                                                                                                                          Ingresso: Gratuito
Indicação: Livre
CCBB São Paulo 
Aberto de quarta a segunda, das 9h às 21h
Rua Álvares Penteado, 112 - Sé, São Paulo
(11) 3113-3651 e 3113.3652

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Cães Sem Plumas - por Laís Moura


Sob a curadoria de Moacir dos Anjos e baseado no poema “Cães Sem Plumas” de João Cabral de Melo Neto, vários artistas como Claudia Andujar, Paulo Nazareth, José Rufino, entre outros se reúnem para retratar pessoas indigentes que sequer possuem um nome, é sobre aqueles que no Brasil, vivem à margem daquilo que os outros já alcançaram, e para os quais somente existe interdição.
Cláudia Andujar

O assunto abordado me chamou bastante a atenção exatamente pelo fato de retratar uma realidade que muitas vezes ignoramos mas faz parte do nosso cotidiano. Como descreve o poeta, um cão sem plumas, “É quando uma árvore sem voz / É quando de um pássaro / Suas raízes no ar. / É quando a alguma coisa / roem tão fundo / até o que não tem.” Moradores de rua, catadores de lixo, ambulantes, índios que reinvidicam suas terras, pessoas que nós não lembramos de seus rostos e não sabemos seus nomes e que se algum dia sumirem, é capaz de nem percebermos. A exposição conta com fotos, projeções, instalações e pinturas, e em algumas obras acaba dando uma identidade para essas pessoas.




 Lexicon Silente, de José Rufino



49 pedras e fragmentos de alvenaria recolhidos nas antigas áreas de conflito agrário das Ligas Camponesas da Paraíba nos anos 60;
Pigmentos minerais, cola e mirra – 9m²
 Lexicon Silente, de José Rufino
A poesia utilizada foi escrita em 1950 e fala sobre o Recife e o rio Capibaribe descrevendo a situação de pobreza e a população ribeirinha. A mostra não visa ilustrar o poema ou interpretá-lo, mas se utilizar dele afim de encontrar artistas que partilhem com o autor o olhar para as populações "esquecidas", descrevendo os “cães sem plumas” que vivem no Brasil, tentando ainda levantar assuntos pouco confrontados em apresentações artísticas nacionais.


Paulo Nazareth - Premium Bananas, 2012 -- carvão e fita adesiva sobre papel  140 x 167 cm

Rosângela Rennó - Vulgo/Texto, 1998 -- vídeo-objeto com animação de palavras projetadas sobre acrílico e tripé de alumínio  200 x 50 x 50 cm


Entrada gratuita, Segunda a sexta, 10h às 19h; sábado, 11h às 15h.
Galeria Nara Roesler: Avenida Europa, 655 - Jardim Europa - Tel.: (11) 3063 2344
Até 09/11/2013



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mem de Sá, 100 ; por Ana Prieto




Quinta-feira passada, dia 17 de outubro, tive o privilégio de conhecer a DOC Galeria na Vila Madalena. Uma galeria aconchegante e pequena de dois ambientes, que por fora parece uma simples porta de um apartamento qualquer, mas por dentro possui uma exposição de fotografias maravilhosa feita por Ana Carolina Fernandes. A exposição se chama "Mem de Sá, 100", o endereço de um casarão na região da Lapa no Rio de Janeiro, e tem esse nome pois trata de um ensaio fotográfico documental com as moradoras desta casa, prostitutas transsexuais. A fotógrafa, Ana Carolina, conviveu nesta casa por dois anos com as moradoras para completar este ensaio, o que é extremamente perceptível pelo ar cotidiano e pelo conforto das meninas fotografadas. As fotos, para mim, são extremamente sentimentais e sinceras, retratam todo tipo de momento da vida destas pessoas que na maior parte do tempo são rejeitadas pelo restante da sociedade.







As meninas são fotografadas tanto se arrumando e embelezando para seus clientes quanto passando tempo juntas e se divertindo sem preocupações. A artista fotografa com um olhar sem preconceito nenhum, mostrando as garotas simplesmente como seres humanos, e não aberrações, "bichas", ou sub-humanos como muitas vezes são denominadas. Este casarão na Lapa existe com o propósito de abrigar transsexuais marginalizadas pela sociedade, que procuram um lugar seguro onde podem viver e trabalhar, um lugar onde não serão julgadas pelo que são e o que fazem. O fato de mostrá-las vivendo suas vidas normalmente as aproxima muito do espectador, são mulheres normais que escutam música, cuidam de sua saúde, dançam, fazem exercício, se depilam e transam. Esta exposição, para mim, é documentário em forma de fotografias, pois passa uma visão não muito conhecida de uma camada reprimida da sociedade que é normalmente vista de outras maneiras não tão sentimentais, humanas e reais. Cada foto conta uma história de muita luta destas mulheres extremamente fortes, pois mesmo com todas as dificuldades e preconceitos ainda parecem pessoas muito felizes e calorosas.





De 1º a 31 de outubro de 2013
DOC Galeria -Rua Aspicuelta, 662, Vila Madalena, São Paulo.
 De segunda à sexta, das 11h às 13h e das 14h às 19h. Aos sábados, das 11h às 14h.

Fronteiras Incertas



Por Rafael Crespo





Composta de 120 imagens clicadas de 1962 a 2010, a exposições “Fronteiras Incertas”, que acontece no MAC-USP, traça um panorama da produção fotográfica do último meio século, notadamente a partir da virada do modernismo para o contemporâneo, reunindo artistas nacionais e internacionais.

A exposição fotográfica que acontece no MAC reúne grandes nomes da fotografia. Em geral, o que observamos é um rico trabalho realizado por artistas de várias partes do mundo, desde o realismo apresentado por Boris Kossoy na série “Viagem pelo Fantástico”, passando pela exploração do corpo humano, feita por Claudia Andujar e Maureen Bislliat. Uma abordagem narrativa aparece no trabalho de Mario Cravo Neto, em seu ensaio “O Fundo Neutro”. Dentre outras grandes obras, há de se lamentar o núcleo mais experimental, protagonizado por artistas poloneses dos anos 70, um tanto repetitivo, remetendo nossas impressões às experiências já realizadas no modernismo.


Durante a visita à exposição, questionei muito o papel da fotografia como um campo artístico. Apontada como um dos agentes protagonistas na inauguração do modernismo, a fotografia não teve papel de destaque ao longo deste período. As grandes revoluções estéticas ficaram restritas às Artes Plásticas, o que jogou a fotografia, de certa forma, para escanteio. Seu papel agora não consistia em servir às artes, mas ao registro histórico quase que jornalístico. Como a exposição “Fronteiras Incertas” traz muitos trabalhos do início do Contemporâneo, pude perceber que foi neste instante que a fotografia assumiria um papel importante nas artes. Com o esgotamento das experimentações das artes plásticas, a hora dos fotógrafos havia chegado.







Depois que a ousadia de Marcel Duchamp foi exposta ao mundo, a definição de arte tornou-se responsabilidade do artista. Aquilo que ele julga que é arte, é arte. Com o esgotamento estético presente no modernismo, pude ver em “Fronteiras Incertas” artistas buscando, desesperadamente, romper limites e provar que a arte ainda tem caminhos a percorrer (ainda que sem narrativas). Observei, nestes artistas, uma angústia típica do pós-modernismo, parecida com o vazio que se sente ao término de um bom filme ou uma boa viagem. A arte contemporânea não recusa seu antecessor, assim como fez a arte moderna. Talvez por isso os artistas de hoje sejam “órfãos” procurando sua razão de ser.





A fotografia foi um campo muito assediado pelos artistas, que rapidamente migraram para esta plataforma ao perceberem a fadiga em que se encontravam as artes plásticas. Talvez o que há de mais revolucionário na Arte Contemporânea seja de fato a fotografia. É a única instância em que a arte se renovou e se expandiu como meio, neste período. Isto fica muito claro na exposição apresentada pelo MAC-USP. Estas fronteiras incertas, presentes no título, parecem-me dialogar diretamente com a angústia do artista que veio ao mundo depois de Marcel Duchamp. O dadaísta transferiu a estes “jovens” artistas toda a responsabilidade de criar seu próprio julgamento e concepção de arte. Nenhuma fronteira do “o que é arte” está claramente definida. Assim como o título sugere, são incertas. Esta incerteza, ao meu ver, ronda todo o período da Arte Contemporânea. A fotografia é o limiar desta fronteira. É, talvez, o ponto mais alto do subterfúgio destes artistas ao modernismo. 


Gratuito. Terça a Domingo, das 10h às 18h. MAC-USP. Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, Vila Mariana. Até 27 de julho de 2014.